Família
Primeiro dia de visitas, no quarto do hospital, após o nascimento da Martina:
– Ela é linda! A fisionomia dos Fagundes!
– Uma gracinha! O rosto é a estampa dos Braga.
– Só se for do nariz para baixo porque o resto é dos Fagundes.
– Digo de uma forma geral, Irene, os traços, o jeito e até a forma de se expressar. São típicas dos Braga.
– Mas os olhos, graças a Deus, são dos Fagundes.
– Donde que vocês têm olhos azuis, Irene? Deixe de ser cínica.
– Gente, por favor! Estamos num hospital. – Mariana repreende sua mãe e sogra.
– Não entendo como conseguiríamos conversar numa boa, Mariana. Tua sogra é uma cobra.
– Quem fala demais é a tua mãe, Mariana. Devemos dar graças a Deus por Martina não ter nascido com o cabeção dos Braga.
– Me respeite, Margarete, por gentileza. Melhor ter um cabeção do que ser falida.
Foi quando Luis, marido de Margarete, colocou mais lenha na fogueira:
– Espera aí, Irene, vamos com calma. Quem é que é falido aqui?
Irene disfarçou, mostrando um sorriso sarcástico. Mas, Jorge, seu marido, diante da iminência de um conflito conseguiu piorar as coisas:
– Pois é, Margarete, talvez você devesse se observar um pouco mais no espelho. Assim, certamente, vai apreender a respeitar as outras pessoas.
Luiz apanhou a bandeja com o jantar da Mariana que estava em cima da mesa e arremessou na direção de Jorge e Irene. Errou o alvo, mas o prato, os talheres e o copo se espatifaram na parede. Foi o que bastou para Irene agarrar Margarete pelo pescoço e Luiz avançar em Jorge, aos socos e pontapés. A confusão ficou generalizada, ninguém parecia acreditar no que estava acontecendo. Salvo Jair, paciente terminal que ocupava no quarto a cama ao lado e morria. Morria de rir daqueles seres humanos. Que se acham senhores de si, mas com as palavras sempre vão mais longe do que querem.