De ônibus para Brasília
Dizem que consta no almanaque de causos gaúchos que algo próximo do ano de dois mil e alguma coisa foi muito festejada: a eleição para o cargo de governador do Rio Grande do Sul que possuía uma forma muito peculiar de conduzir a gestão pública. Consta, também, que sua eleição foi considerada um tiro no pé, pois herdou um estado falido em que faltava dinheiro até para pagar o salário dos servidores, além de uma enorme dívida financeira com a união, a qual todos os meses sangrava os cofres do Rio Grande. E foi justamente em razão da tal dívida que o governador ordenou que seu chefe de gabinete imediatamente agendasse uma audiência na capital federal com o ministro da Fazenda. E escalou para acompanhá-lo quatro secretários de estado, seis técnicos do tesouro, além de procuradores e o pessoal da comunicação social.
No aeroporto, enquanto aguardava a chamada para embarque no portão de número quatro, a funcionária da companhia anuncia no microfone:
– Sua atenção, por favor, os passageiros do voo 1718 com destino a Brasília, e conexões para Palmas e Macapá. Informamos que a aeronave que fará o seu voo já se encontra em solo. Todavia, devido ao reposicionamento da aeronave, o embarque, quando autorizado, será realizado através do portão de número dois.
O governador e sua equipe deslocaram-se para o novo portão de embarque, que conta-se foi alterado por outras três vezes, deixando o chefe do estado visivelmente irritado – o que verdadeiramente era uma exceção, pois sempre se mostrava em público de bom humor, contando piadas.
Após um longo atraso uma nova agente da companhia retornou ao microfone e convidou os passageiros do vôo 1718 com destino a Brasília e conexões para Palmas e Macapá para o embarque imediato.
O governador, que já descontava nos secretários, diante do anúncio do embarque imediato, deslocou-se apressadamente para a fila que começava a se formar. Apresentou seu cartão de embarque e a carteira de identidade e recebeu a orientação da funcionária da companhia para avançar pelo portão a frente e embarcar no ônibus da esquerda.
Foi quando, indignado, virou-se para a agente de aeroporto e bradou:
– Ai já é demais. Eu até aceito essa dívida que já foi paga com a união, o atraso, as trocas sucessivas de portão. Agora de ônibus a Brasília eu não vou. Estamos em Porto Alegre, gente. A capital Federal é muito longe daqui.