Notícia da minha morte
Ontem faleceu David Coimbra, jornalista muito presente na vida dos gaúchos. E a repercussão pela sua morte foi grande. Não apenas porque David era um jornalista competente e com forte presença na vida das pessoas, mas também porque todos sabiam que ele tratava um câncer grave diagnosticado há nove anos, tendo, inclusive, permanecido algum tempo nos Estados Unidos fazendo um tratamento contra a doença.
Ao ler nos jornais no dia posterior da sua morte as histórias de David, pude conhecer um pouco mais da sua biografia pessoal e profissional. Todos que tratam do assunto são unânimes em afirmar que partiu uma grande pessoa. Alguém que, mesmo doente, sempre procurou manter suas atividades diárias no jornal e no rádio. Foram muitos depoimentos acerca de sua despedida em todos os meios de comunicação e, inclusive, nas ruas. E David sempre sendo tratado como uma pessoa querida por todos. Lendo sobre tudo isso, pensei: como será a notícia da minha morte? Calma aí, não sou megalomaníaco, exibido, ou que pensa que a sua própria morte vai gerar noticiários. Me refiro à repercussão da minha morte na vida das pessoas que convivi ou que conviveram comigo.
Você já pensou sobre isso? Colegas de trabalho, filhos, primos, porteiros, amigos, vizinhos, enfim: todas as pessoas que, de certa forma, convieram contigo e que terão sua atenção direcionada, quando da notícia da tua morte, mesmo que, por alguns instantes, para pensar sobre você. Serás considerado um bom pai pelos teus filhos? Uma boa companhia pelos teus amigos? Um marido leal? Ou uma pessoa ausente, falcatrua, chata e inconveniente?
Talvez não percebamos, mas o que nos move durante a vida são as realizações, de todos os tipos. E, ao final, a busca por realizações vem dentro de um contexto de sobrevivência, de viver a vida, que é angustiante por natureza, pois sabemos quando inicia, mas não sabemos quando vai acabar. Foi daí que me dei conta de que o grande questionamento acerca deste assunto esconde a maior preocupação do ser humano: ser esquecido. E, pensando na partida do David, refleti que o esquecimento não deve preocupar. Ao menos não após morrer. Porque o medo de ser esquecido é o medo de quem ainda não partiu.